Tendências/Debates: Ciência, tecnologia e ainda a vaca

Li com muita atenção o artigo do colega físico Ivan Oliveira, “Ciência, tecnologia, inovação, vaca e leite”, publicando aqui em 19 de julho.

Ele defende que a inovação é “efeito colateral” da ciência básica e que, por isso, é necessário investir na descoberta científica. Novos produtos e processos virão como consequência.

É preciso observar, porém, que, ao longo da civilização industrial, o desenvolvimento foi se aproximando da descoberta.

Assim, há 150 anos uma descoberta científica geraria um produto novo cerca de cem anos depois. Já há 50 anos, este gap era de cerca de dez anos. No final do século, a tecnologia chega apenas alguns anos atrás da descoberta científica.

O fato interessante, então, é que no passado distante a pesquisa científica, visando a descoberta, e a pesquisa em tecnologia, visando a invenção, não mantinham relação de importância.

Nas duas últimas décadas, porém, a invenção se aproximou tanto da descoberta que nos grandes centros as duas fases do conhecimento praticamente se uniram. Isto significou que a pesquisa científica se associou à tecnológica –é preciso que seja assim.

Os exemplos listados por Oliveira ilustram de uma certa forma a antítese da proposição do autor.

Ele nos conta que cristais líquidos foram descobertos em 1888 pelo botânico Friedrich Reinitzer na Universidade de Praga. Mas tanto Reinitzer quanto a sua instituição certamente não tiveram um papel relevante no desenvolvimento de monitores de TV, computadores ou tablets. E, claro, não receberam patentes por isso.

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