O silício pode até ter sido responsável pela revolução na indústria dos chips, mas, certamente, a humanidade não teria chegado a tal grau de sofisticação eletrônica sem uma classe de elementos químicos menos populares.

Os chamados elementos de terras-raras estão presentes nos mais diversos aparelhos, dos iPhones aos motores a jato, e são cada vez mais demandados. Um relatório da Agência de Mapeamento Geológico dos Estados Unidos revelou que o Brasil concentra as maiores reservas desses materiais, dispersos por toda a crosta terrestre. Riqueza que, se bem explorada, pode colocar o país, de vez, na cadeia de produção tecnológica.

As terras-raras são 17 elementos químicos da tabela periódica com propriedades magnéticas fundamentais para a fabricação de equipamentos eletrônicos. “Elas permitem, basicamente, a confecção de ímãs muito fortes, usados na memória dos aparelhos. Como elas têm essa alta capacidade, muito maior do que em outros metais, possibilitam que os dispositivos fiquem cada vez menores, cumprindo a mesma função”, explica o professor Gerson Mól, do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB). “Há 100 anos, esses elementos sequer eram demandados, mas fomos, aos poucos, criando essa necessidade”, completa o especialista. Para se ter uma ideia do tamanho da procura, o quilo do neodímio metálico (uma das terras-raras) custava US$ 50 em janeiro e, hoje, não sai por menos de US$ 250.

A bolha econômica ocorre, em boa parte, porque esses elementos estão muito dispersos pelo mundo. “Não é como o ferro, encontrado em grandes jazidas e de fácil extração”, compara o professor Mól. Talvez venha daí o nome “terras-raras”. Na verdade, essas substâncias são mais abundantes que o ouro, por exemplo, que está presente em 0,00000031% de cada 100g da crosta (algo cinco vezes menor que um grão de areia). “Acontece que as terras-raras existem em concentrações relativamente baixas. São materiais que precisam ser escavados e processados com reagentes químicos. Isso traz um impacto ambiental pesado”, afirma Mike Pitts, gerente de sustentabilidade da Chemistry Innovation, uma entidade que promove a inovação industrial na Inglaterra.

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