Questão estratégica
RUBENS BARBOSA
As grandes transformações por que passa o mundo globalizado estão propiciando algumas oportunidades que o Brasil não pode deixar passar. A abertura do mercado global para terras-raras brasileiras é uma delas.
Terras-raras são um grupo de 17 tipos de metais não ferrosos de nomes estranhos, cuja produção está concentrada (97%) na China, que detém um terço das reservas mundiais e concentra, juntamente com Rússia, EUA e Austrália, cerca de 70% das reservas globais. Índia, Rússia, Brasil, Malásia e EUA são outros produtores marginais.
Segundo estudos do Congresso dos EUA, a demanda global está crescendo significativamente, passando de 134 mil toneladas em 2010 para 180 mil em 2012, representando um mercado de cerca de US$ 10 bi.
A questão das terras-raras ganhou uma dimensão política e estratégica quando a China, depois de incidente pesqueiro com o Japão, ameaçou reduzir as quotas de exportação para esse país. Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas deixaram saber que haveria uma redução de 40% das quotas de exportação para o mercado mundial sob alegação de proteção ao meio ambiente.
EUA e Europa denunciaram a China por prejudicar a fabricação de produtos sensíveis ocidentais. Os países da Europa, a Coreia e os EUA começaram a buscar fontes alternativas para diminuir a dependência da Chiria. O Japão, o maior consumidor mundial, iniciou negociações com a Mongólia e o Casaquistão para dar início à exploração de novas jazidas desses minérios.
O Brasil é um dos poucos países a possuir reservas confirmadas desses minérios. Ocupando a terceira posição depois de China e Índia, segundo o US Geological Survey, o Brasil deteria uma das maiores reservas do mundo.
A importância estratégica desses produtos torna urgente a definição de uma política de produção e de comercialização para atender ao interesse nacional.
Grupo de trabalho interministerial integrado pelos ministérios das Minas e Energia e da Ciência e Tecnologia está propondo uma política estratégica de fomento à produção e à capacitação tecnológica para tornar viável a exploração desses minérios.
Sinalizando políticas corretas e coerentes com o interesse nacional, o relatório sugere a conveniência da negociação de acordos bilaterais comerciais e científico-tecnológicos. Empresas detentoras de know how para a fabricação de produtos de alta tecnologia, à base de terras-raras, poderiam associar-se, por meio de parcerias público-privadas, para a implantação no Brasil de uma cadeia produtiva, que poderia viabilizar, no longo prazo, a exploração das jazidas até aqui inexploradas, em função do pouco interesse demonstrado pela indústria nacional.
O alto custo da exploração, associado às complexidades técnicas, explica a reticência do setor privado em investir e as dificuldades da empresa lndústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal responsável pela política de lavra e comercialização das terras-raras.
Anuncia-se que o Ministério da Ciência e Tecnologia está procurando atrair a companhia Vale para explorar terras-raras e utilizar o minério em produtos de maior valor agregado. Estão sendo mantidos igualmente entendimentos com a Alemanha para desenvolver programa de cooperação nessa área.
O Brasil tem uma oportunidade excepcional de negócio e terá um posicionamento estratégico, se aproveitar esta janela de mercado.
Assim como ocorre com o urânio, os minerais raros radioativos são monopólio estatal, exercido pela INB. Uma política racional tanto dos minerais radioativos quanto raros deveria passar pela abertura, como ocorre com o petróleo, da exploração pelo setor privado, com todas as cautelas e controles que existem hoje na área petrolífera.
A demanda global para diversificar as fontes de suprimento das terras-raras coloca o Brasil em posição privilegiada para não só atrair novas tecnologias, mas também para participar de um promissor mercado externo. O interesse externo sobre as reservas brasileiras é grande. lmpõe-se a aprovação de regras claras de longo prazo que defendam o interesse nacional e possam atrair investimento para a exploração dessa riqueza.
RUBENS BARBOSA é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
Fonte: Jornal O Globo, OPINIÃO
Data: 14/06/2011