Novas moradias para vítimas de terremoto
Jornal do Commércio 07/01/2012 – Caderno “Cidades” pagina 4
AGRESTE Residências com estrutura reforçada foram entregues pelo governo a 27 famílias de Alagoinha prejudicadas por 47 abalos sísmicos em série ocorridos em três dias, em 2010
Vinte e sete famílias de Alagoinha, município do Agreste pernambucano, a 225 quilômetros da capital, estão mais tranquilas, mesmo diante da possibilidade de novos terremotos na região. Instaladas em casas com reforço especial na fundação e construídas em concreto armado e ferro, elas não correm mais o risco de ficar desalojadas, como ocorreu em março de 2010, quando uma série de 47 abalos sísmicos assustou a população local durante três dias. As moradias entregues pelo governo, no fim do ano passado, foram construídas para suportar novos tremores.
A casa da agricultora Josefa Maria de Lima, 32 anos, estava entre as que que não resistiu ao terremoto que atingiu 3,2 graus na escala Richter, que vai até 9. Embora o imóvel novo tenha um quarto a menos do que o antigo, ela está satisfeita. “A outra casa tinha três quartos. Mas, em conforto, essa é muito melhor. O banheiro é dentro de casa, coisa que não tinha antes”, elogiou. Todas as casas seguem o mesmo padrão: dois quartos, sala, banheiro, cozinha, área de serviço e sistema de fossa.
A cunhada de Josefa, a também agricultora Claudenice das Montanhas Gouveia, 38, é outra que não tem do que reclamar. A casa onde morava era emprestada e exibia pequenas rachaduras. “Depois que foi atingida, ela ficou ameaçada de cair. Acabamos ganhando uma nova”, contou ela, agora proprietária do imóvel.
Entre os abalos e a entrega das casas, os desalojados tocaram a vida no improviso. Grávida na época, Claudenice passou um ano na casa dos pais, com a irmã, o cunhado e dois sobrinhos. “Ficou apertado. Mas a fé nos fez seguir em frente.”
Os beneficiados moram nos povoados de Carrapicho, São José de Alverne e Salambaia, zona rural. A Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) também reergueu o antigo posto médico de Alagoinha, que funcionava de forma precária numa casa de 68 metros quadrados. A construção de outras 69 moradias está sendo planejada. A maior parte da verba é federal, com contrapartida do Estado. O Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social repassou R$ 1,5 milhão.
Apesar de o epicentro dos tremores ter sido no município de São Caetano, o fenômeno foi sentido em outras cidades do Agreste, como Caruaru e Taquaritinga do Norte, além de Alagoinha. Professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paulo Correia explica que há a possibilidade de outros abalos sísmicos na região. Mas, ressalta ele, todos de baixa magnitude. Para angústia dos moradores, a ciência ainda não consegue antecipar quando haverá novos abalos.
Em terremoto, não se pode falar em data, nem período. O que se pode afirmar é que não se deve construir edificações numa zona de falhas ”, avisou.
O Estado é cortado por uma falha geológica que vai do litoral ao Sertão, conhecida como Zona de Cisalhamento Pernambuco. Nessa faixa, que passa pelo Agreste, ocorrem os tremores. O monitoramento do fenômeno é feito pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), que conta com cinco sismógrafos em Pernambuco: dois em Caruaru e um em São Caetano, Gravatá e Sanharó.
Os aparelhos registram as ondas sísmicas geradas nos terremotos provocados pelo encontro de placas tectônicas ou pelas falhas.