MINERAÇÃO E CULTURA TECNOLÓGICA NACIONAL

Introdução
Cultura tecnológica nacional não é apenas construir um carro, é também trocar de lado o volante e o sentido do trânsito, como fez Inglaterra no começo do século XX, preservando a sua indústria e mercado, inclusive nas suas colônias da época. A autoridade pública deve impor decisões políticas acima dos argumentos meramente técnicos ou econômicos, muitas vezes subjetivos, angelicalmente “científicos” e nos dias de hoje, segundo orientações globais de um poder econômico distante física e conceitualmente dos interesses nacionais. A decisão de construir plataformas para exploração submarina de petróleo nos estaleiros nacionais foi uma ótima decisão política do Governo Brasileiro (em grande parte devido ao fato da PETROBRÁS ser estatal); e esta atitude pode estender-se à revitalização do parque ferroviário e a outras áreas básicas da indústria e da tecnologia nacional, entre elas: a Mineração.
O Negócio Mineral
Durante os anos 90 houve pouco ou quase nenhum investimento na área produtiva de mineração no Brasil, mas muito dinheiro circulou de mão em mão, agrupando-se os produtores em grandes corporações, privatizando a CVRD e outras movimentações de compra e venda entre grupos acionários, como no caso dos Fosfatos e outras áreas (CSN, MBR e outras); parecia o preparo para uma grande investida. Por outro lado, após uma série completa do exercício da cadeia alimentar entre os fabricantes, no começo do século XXI consolidou-se um monopólio ligado à fabricação de equipamentos de beneficiamento, principalmente de cominuição, que são os mais caros. As fábricas nacionais de equipamentos de mineração caíram na mão de empresas globais.
Enormes negócios minerais são esperados para o Brasil nestes próximos anos e, se o governo brasileiro não tomar uma atitude, esses projetos serão direcionados por engenharia externa, o dinheiro dos investimentos produtivos continuará saindo para fabricantes internacionais; as usinas serão construídas do jeito que o projetista-alfaiate costurou (cada alfaiate faz uma usina diferente) e o minério será transportado por vagões fabricados no exterior.
Enquanto Isso
Todos os novos projetos minerais possíveis de serem implantados nos próximos anos no Brasil, já foram estudados pelo governo dos EUA e do Canadá, auxiliados por técnicos brasileiros com “carteirinha” green-card. As informações podiam (até pouco tempo atrás) ser lidas no site: www.stat-usa.gov ou também procurando na Internet qualquer informação sobre “mining projects in Brazil”. O governo Canadense possui o seu representante local para ajudar a desenvolver negócios minerais. A China “ameaça” fazer de tudo por um preço mais barato. Recentemente, o estado australiano de Queensland instalou em Belo Horizonte o seu quarto escritório nas Américas, para os setores da mineração e siderurgia. A indústria mineral brasileira e suas instituições de classe parecem estar apenas observando esta avalanche de possibilidades.
Novos engenheiros, dependendo da sua universidade, projetam usinas diferentes, em função da cultura tecnológica que os seus professores adquiriram em outros países, repassando conhecimentos, mas sem aguçar o sentido crítico dos seus alunos nem propiciar o desenvolvimento interno da melhor tecnologia para a realidade brasileira.
MINERAÇÃO E CULTURA TECNOLÓGICA NACIONAL
Projetos vizinhos de um mesmo minério são implantados com culturas diferentes, dependendo da vertente cultural da universidade onde o projetista se formou. Moagem convencional se contrasta com moinhos SAG, tratando minério similar, poucos quilômetros ao lado, gastando o SAG quase o dobro de energia.
O negócio mineral foi sublimado até alturas onde transitam apenas economistas e banqueiros. A turma do macacão e capacete é comprimida dentro dos 20 ou 30 dólares do custo operacional, insignificante em comparação ao atual preço das commodities. O dinheiro é investido em função de garantia bancária, da credibilidade do assinante e da vaidade de quem aparece perante o mercado como investidor de fachada. Em circunstância que o dinheiro vem realmente de senhoras aposentadas de países desenvolvidos, que nem sabem que o projeto poderia ter sido feito pela metade do preço.

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