Mineração Brasileira: até quando vamos perder bilhões?

Por Pedro Jacobi

A cada ano que passa o Brasil deixa de ganhar, para não dizer empobrecer, bilhões de dólares. Em algumas décadas serão trilhões de dólares que o país deixará de contabilizar por um simples motivo: falta de visão e de competência de nossos governantes. Eu sei que você vai me dizer que já viu esse filme antes e que isso é comum na economia nacional. Ocorre que este enorme prejuízo pode ser evitado, no curtíssimo prazo e com investimentos mínimos – se os nossos governantes quiserem, é lógico.

Esse empobrecimento de que falo tem a ver com a gigantesca transferência de dinheiro causada pela venda dos nossos direitos minerais, minérios e empresas de mineração aos investidores estrangeiros. Não pense que se trata de algum roubo feito pelos investidores. Nada disso! O que causa esse prejuízo é a incapacidade que o Brasil, e suas instituições, tem em poder financiar as empresas juniores de mineração. Aos investidores estrangeiros cabem apenas nossos aplausos, pela iniciativa de investir na produção brasileira e no Brasil, apesar de todas as dificuldades e riscos, convertendo sonhos minerais em realidade.
Veja abaixo, como o Brasil perde imensas fortunas:
Tudo começa quando uma Junior Company descobre um depósito mineral econômico em território Brasileiro. A partir desta constatação o  Minerador  brasileiro de pequeno porte ou empresa junior descobre que a sua mina nunca irá decolar pela simples falta de financiamento. Todos sabemos que mineração é para experts com muito dinheiro, dinheiro esse de risco e, por isso, o dinheiro mais difícil de encontrar. Somente mineradores com muita liquidez e coragem ou os investidores das bolsas de valores costumam enfrentar este desafio.

Sentar e esperar não é uma opção. Neste caso o Minerador irá perder o seu direito mineral pois a legislação mineral nos obriga a iniciar uma lavra, na pior das hipóteses, em 6 anos da data do recebimento do Alvará de Pesquisa.
Por mais que o Minerador lute a ele só restam as seguintes opções:
1. Financiar com capital próprio o empreendimento mineiro: esse cenário é o que permite o maior lucro, mas para 99.99% das juniores é apenas um sonho. Empreendimentos em mineração frequentemente superam as centenas de milhões de dólares e poucas pessoas no mundo podem bancá-los. É por esse fato que as juniores do mundo todo recorrem às bolsas de valores e às vendas de ativos para financiar os seus projetos.

2. Venda dos ativos da júnior, preferencialmente a empresas de mineração já capitalizadas: de uma forma geral, essa opção é a mais simples mas é também aquela que gera o menor retorno ao minerador, já que as empresas compradoras costumam depreciar terrivelmente os ativos minerais, como forma de reduzir drasticamente os riscos. As grandes mineradoras só cogitam a compra de ativos minerais que elas possam controlar de forma absoluta: elas querem nada menos do que 100%. Por isso, geralmente pagam valores muito baixos, invocando o risco e a baixa maturidade do projeto. Caso o minerador júnior queira vender apenas uma parte minoritária do seu projeto ele deve recorrer a outros mineradores e demais entidades como bancos e grandes investidores, no que chamamos de private placement. Tal modalidade é comum quando o projeto já está em nível bastante avançado e com reservas calculadas, auditadas e aceitas pelas bolsas de valores. Essa aceitação implica que os recursos minerais foram avaliados conforme parâmetros aceitos pelas bolsas. É o caso do 43101 no Canadá ou o JORC na Austrália e na Inglaterra – no Brasil, somente agora estamos nos aproximando de um padrão JORC. Em geral, o prejuízo comparativo é menor no caso dos private placements do que nas vendas dos ativos totais. O private placement dá tempo de o projeto maturar e receber uma avaliação financeira maior, o que pode implicar em um maior lucro no médio prazo.

3. IPO– Financiar o projeto vendendo ações de sua empresa nas bolsas estrangeiras: o motivo que obriga o minerador em bolsas do exterior o financiamento para desenvolver projetos no Brasil é simples: a Bovespa não costuma fazer ofertas públicas de ações (IPO) menores que trezentos milhões de reais (veja a tabela abaixo). Ou seja: não existe no Brasil uma bolsa que possa financiar as empresas juniores que, na fase inicial precisam de financiamentos de poucos milhões a dezenas de milhões de dólares, raramente atingindo a oferta de centenas de milhões que a Bovespa exige. Neste caso, ao minerador júnior resta apenas o financiamento via bolsa estrangeira.

Uma vez escolhida esta opção, o minerador júnior passará por um longo processo de certificação e de auditagem técnica, financeira e legal da sua empresa e dos seus ativos. Este processo é marcado por um enorme nível de detalhamento, e os custos legais e operacionais acompanham tal enormidade. As principais bolsas de valores para juniores (Toronto, Londres ou Sydney) exigem inúmeras garantias, sempre com o intuito de proteger seus investidores, que terão acesso aos papéis da júnior brasileira.

Nosso bravo minerador deverá passar por um estressante processo de due diligence, de certificação e avaliação de si, de sua equipe e dos seus ativos. São poucos aqueles que conseguem passar pelo crivo das bolsas, das empresas que estas contratam para a auditagem e dos investidores. Se o minerador brasileiro tem dinheiro para bancar esses custos iniciais, é realmente competente e o seu projeto e equipe estão muito acima da média mundial, ele terá sua empresa aferida dentro da visão do mercado e dos investidores. Esse é o valuation, o número mágico que irá contar ao mercado o quanto a sua empresa ou projeto valem no momento do IPO. A partir desse valor, a empresa pode emitir ações na bolsa que, se forem compradas, irão financiar os programas futuros da empresa.

A cada nova necessidade de fundos a junior company listada poderá fazer uma nova emissão de ações recebendo em troca um novo financiamento.

Esse resumo acima minimiza as milhares de horas de trabalho, as incontáveis reuniões no Brasil e fora dele, as incessantes teleconferências, as viagens ao campo, as amostragens adicionais, as sondagens, os laudos geológicos e legais, os trabalhos de engenharia, metalurgia, logística e infraestrutura, as reuniões com mandatários, políticos, donos das terras e com os qualified geologists, advogados e engenheiros. Um IPO bem sucedido custa milhões de dólares. Não há como evitar!!! Se você não tem esse capital inicial só lhe resta vender parte de sua empresa agora, quando você ainda controla os direitos minerais, a alguém que possa lhe ajudar no processo da oferta pública no exterior.

Após o IPO tudo parece lindo e maravilhoso. A empresa está listada e capitalizada podendo então investir confortavelmente nos seus projetos. No entanto, a realidade é diferente… Após a oferta, a júnior tem novos donos: os acionistas. Serão eles que irão influenciar os rumos e decisões a serem tomadas no futuro. pós-IPO.

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