Geólogos cobram sinalização de arrecifes
FORMAÇÃO ROCHOSA Prefeitura do Recife ignora recomendação feita pela Comissão de Sítios Geológicos e Paleológicos para colocação de placas indicativas na orla e no arenito
Cinco anos depois de reconhecido como sítio geológico, um trecho de quatro quilômetros de arrecifes do litoral recifense continua sem sinalização. A colocação de placas indicativas é uma das recomendações da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleológicos (Sigep), que confere o título no País.
Os arrecifes, que se estendem do Marco Zero a Boa Viagem, são registros geológicos de antigas praias. Datados de 7.310 anos a 5.430 anos, se constituem em estruturas naturais de pedra e deram nome à cidade. É que o topônimo Recife vem da palavra árabe ar-racif, que significa calçada ou caminho do mar.
Equipe de cientistas que elaboraram a proposta, aprovada em 2007, apresentou à Prefeitura do Recife projeto que prevê a implantação de, pelo menos, seis placas. Com dados como origem, composição e importância dos arrecifes, seriam afixadas sobre as pedras e na faixa de areia da praia.
A Secretaria de Turismo do Recife (Setur) confirma ter recebido cópia do projeto, mas não considera os arrecifes um atrativo turístico. “A Capela Dourada, a Oficina Brennand ou o Instituto Ricardo Brennand são. Os arrecifes têm importância ambiental, por isso orientamos os geólogos a procurarem a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e não a de Turismo”, explica o diretor da Setur, Renato Barbosa.
A recomendação dos cientistas é que os painéis interpretativos contenham dados geológicos e históricos dos arrecifes. “Esse tipo de sinalização já é uma realidade em sítios geológicos da Bahia, Rio Grande do Norte, Paraná e Rio de Janeiro. Esperamos que Pernambuco também considere como patrimônio sua riqueza geológica”, diz a paleontóloga Alcina Barreto, professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Sugerimos que o painel, além da importância histórica e geológica, indique que o nível do mar era cerca de um metro mais alto há seis mil anos atrás”, detalha a pesquisadora.
A geóloga Hortência Barbosa, da unidade da Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) em Pernambuco, lembra que os arrecifes são considerados paleopraias. “São marcas do movimento de transgressão e regressão marinha, formados ao longo de milhares de anos”, descreve a cientista.
De acordo com Alcina, a escolha dos arrecifes de arenito de Pernambuco para a lista da Sigep se deveu à importância geológica, geoturística e pedagógica. A linha de praia, diz ela, não só definiu a localização do porto como deu origem ao nome da cidade.
FORMAÇÃO
A idade estimada do arenito no trecho do Buraco da Velha, na Praia de Brasília Teimosa, é de 7.310 anos, podendo ter uma variação de 105 anos para mais ou para menos, tendo como referência o ano de 1950 (utilizado nas datações feitas pela técnica do carbono 14). Em Boa Viagem, na área próxima ao Edifício Acaiaca, o tempo da rocha é calculado em 5.430 anos, com variação de 40 anos.
Os portugueses usaram os arrecifes porque era a única rocha disponível na época”, comenta Alcina Barreto. Vestígios do emprego dessa rocha podem ser vistos em paredes do Paço Alfândega, no Bairro do Recife, e na escada da Basílica de Nossa Senhora do Carmo, em Santo Antônio, também no Centro.
Fonte: Jornal do Comércio ( 06/04/2012 – Caderno: Cidades | Seção: Ciência/Meio Ambiente )