Comitê aponta falhas em ação no leito de rio Capibaribe
Mineradora está removendo areia do leito do rio com máquinas, em vez de pás.
Atividade acelera a degradação ambiental
Mineradora licenciada para remover com pás, do leito do Capibaribe, 1.800 metros cúbicos de areia por mês está usando retroescavadeira, segundo denúncia debatida ontem em reunião do comitê da bacia hidrográfica do rio.
O uso de máquinas, dizem os especialistas, acelera o processo de degradação ambiental gerado pela atividade.
“A remoção de areia está expondo ao sol o que resta de água nesse trecho do rio”, afirma o presidente do comitê, Ricardo Braga. Ele estima uma evaporação anual de 2.500 milímetros de água por metro quadrado.
É que, com a remoção da areia do leito, chamada de aluvião, a água protegida no lençol freático é colocada em contato com a atmosfera.
Braga, que é professor de hidrologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lembra que o rio, nesse trecho,é intermitente. Ou seja, se mantem praticamente seco a maior parte do ano. “Dos 275 quilômetros de extensão no Capibaribe, um terço é intermitente e o restante é perene”, esclarece.
O trecho de extração de areia denunciado fica entre os municípios de Santa Cruz do Capibaribe e Poção, no Agreste. A mineração começou, de acordo com Braga, em setembro de 2011. A empresa, que não teve o nome revelado, atua no quilômetro 20 da Rodovia PE-160.
Em maio, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe, que se reúne a cada três meses, criou um grupo de trabalho para discutir o assunto. No encontro de ontem, no auditório da Assefaz, na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, área central do Recife, o grupo apresentou o relatório. “O documento indica que a atividade, embora licenciada, está provocando impactos ambientais”, resume Ricardo Braga.
Outro efeito nocivo ao meio ambiente, menciona, é a poluição da água. “A remoção da areia está formando uma lagoa, onde a água fica estagnada. Quando armazenada no lençol freático, no entanto, se mantém limpa.”
Na opinião do pesquisador, a empresa descumpriu a licença ao fazer uso de máquinas, no lugar de extrair a areia manualmente, o que seria motivo para o embargo da obra.
A área onde a empresa tem autorização para operar, com 47 hectares, é também utilizada por agricultores. “Eles fazem cacimbas e bombeiam essa água aprisionada no lençol freático, de 80 centímetros a um metro de profundidade, para irrigar a lavoura”, esclarece Braga.
O comitê pretende formular denúncia ao Ministério Público, pedindo a suspensão da atividade. O fazendeiro Paulo André Dias da Silva, proprietário rural da região, informa que a Justiça chegou a suspender a obra, mas a liminar foi derrubada.
Fonte: Jornal do Comércio/PE – Caderno “Cidades” – Edição 23 de Agosto de 2012.