Estagnação de pesquisas em mineração gera expectativas negativas
A percepção da sociedade sobre o que é mineração geralmente está relacionada às imagens do gigantismo das poucas grandes empresas do setor. Essa associação ignora as pequenas mineradoras.
Estima-se que existam mais de 8.000 em operação no Brasil, que exploram 55 tipologias minerais.
Para “visualizar” o que é mineração, basta olhar em volta. Há minérios em quase tudo: da água mineral até as paredes de uma casa, do celular à pasta de dente.
Para que o cidadão tenha acesso a esses bens, é preciso a ação de mineradoras. Ou seja, a mineração é, por princípio, essencial.
Os produtos mais minerados no Brasil, em volume, são os agregados da construção civil, como areia e pedra britada. A produção anual é de 623 milhões de toneladas/ano, basicamente a cargo das pequenas empresas.
Esse total é o dobro da produção de minério de ferro. A diferença é que a mineração de agregados está atomizada em todo o país.
Mais invisível ainda é o papel da pesquisa mineral, pela qual pequenas empresas (“juniors companies”) identificam as jazidas que darão início aos projetos.
É uma atividade de alta complexidade, gera custo expressivo, está exposta a elevado nível de risco e tem taxa de sucesso de menos de 1% para novas descobertas.
Sem estimular a pesquisa, não há como renovar o estoque de minérios na velocidade ideal para responder ao crescimento do consumo.
No Canadá, por exemplo, as “juniors” acessam mecanismos de financiamento via Bolsa de Valores. Aqui, essas empresas sobrevivem graças à criatividade e à coragem de seus proprietários.
Recentemente, o governo interrompeu a concessão de novos alvarás de pesquisa.
Na imprensa, há informações de que isso ocorre em razão da expectativa de adoção no Brasil de um novo marco regulatório da mineração –que nem sequer chegou ao Congresso para o debate inicial.
Há acúmulo de milhares de pedidos, estagnando essa importante fase da mineração, o que gera grandes incertezas “em cascata”.
Além de inviabilizar a atuação das “juniors”, tal medida fecha portas aos investimentos obrigatórios em novos projetos minerais, que refletem em outros setores.
Atinge-se negativamente a expectativa de fornecimento futuro de matérias-primas à indústria e à agropecuária.
O mesmo se dá em relação às exportações do Brasil, que poderão ficar fragilizadas. Isso em razão de os excedentes de minérios gerarem divisas até então muito bem-vindas nessa longa época de crise.
Pelo jeito, o governo precisa mudar sua percepção sobre a mineração.
RINALDO CÉSAR MANCIN é diretor de assuntos ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração
*Artigo publicado na folha de São Paulo no dia 11/07/2012
Fonte: Ibram